No mês de março, mês em que se assinala o Dia Internacional da Mulher, partindo de um e-mail enviado pela Amnistia Internacional, os alunos das turmas A, B e C do 10ºano, no âmbito de Cidadania e Desenvolvimento e numa atividade articulada entre as docentes de Biologia e Geologia e de Português, foram desafiados a refletirem e a elaborarem um texto de opinião sobre “Igualdade de Género no Desporto”. Dos trabalhos enviados foram selecionados 4 textos mais significativos:
1 – A caminho da igualdade
Atualmente, a desigualdade de género é algo que está longe de ver uma luz ao fundo do túnel. Esta é uma das maiores realidades do século, que muitos tentam combater. Desde a educação até à política, muitas áreas enfrentam esta luta diária, incluindo a do desporto.
Muitos podem afirmar que se trata de tradição. Que desde sempre os homens têm um papel mais importante no que toca ao desporto e que inclusivamente o corpo humano foi feito para que o homem tivesse mais força, agilidade. Mas esse é um argumento que já não ilude as mentes jovens.
Está comprovado que as mulheres podem realizar qualquer tarefa com tanta eficácia quanto os homens. Então porque é que esta desigualdade ainda existe atualmente?
Nos nossos dias, as mulheres continuam a ter uma grande desvantagem em relação aos homens. Têm mais dificuldade em encontrar emprego nesta área e são poucas aquelas que conseguem sobreviver a comentários e desmotivações por parte de outros, ou mesmo sobressair em certas áreas do desporto. Contudo, um dos maiores entraves à igualdade no desporto é o apelo ao consumidor, que consome mais desporto masculino.
Em muitos desportos, criaram-se regras para que se realizassem jogos justos, em que cada oponente mostra o que realmente consegue fazer sem vantagens prévias. Contudo, o que acontece fora dos jogos é o exato oposto. As mulheres são rebaixadas e dificultam o seu acesso a certos desportos, deixando-as em patamares abaixo de uma partida justa.
Infelizmente, muitas mulheres são privadas dos seus sonhos por não serem vistas como dignas destes. É necessária uma mudança na mentalidade por parte de pessoas influentes nesta área, mas também por nossa. Afinal, tal como Walt Disney disse “Os sonhos existem para se tornarem realidade”.
Autora: Clara Pereira Mourão, 10ºA
2 -Para quando um jogo misto de futebol?
Para começar, o papel da mulher no mundo do desporto foi-se modificando ao longo dos tempos. Os primeiros testemunhos que evidenciam uma atividade física por parte das mulheres datam da Antiguidade Clássica – em Esparta e Atenas.
Neste período da História, as mulheres não tinham quaisquer direitos no mundo do desporto. Por exemplo, no que toca aos Jogos Olímpicos da Antiguidade, que se realizaram entre 773 a.C. e 393 d.C., as mulheres estavam proibidas de participar por questões religiosas e também não podiam assistir aos mesmos. Se as mulheres violassem estas regras, eram punidas e até sujeitas à pena de morte.
No entanto, as mulheres solteiras e as raparigas tinham os seus jogos (Jogos de Hera) que decorriam de quatro em quatro anos.
É preciso dar um salto para o século XX, para que a situação mude. Neste novo século são vários os jornais que, na primeira década de 1900, se referem à participação feminina nos eventos desportivos, assim como aos benefícios para a saúde que a atividade física pode proporcionar. Com o final da Grande Guerra de 1914-1918, a mulher, ao assumir um papel mais ativo na sociedade, substituindo o homem em muitas tarefas, nomeadamente no meio fabril, consegue, com pequenos passos, entrar no mundo da competição e, com essas conquistas, atrair sobre si outro tipo de reações. Deste modo, a tónica simpática e benevolente foi desaparecendo.
Contudo, com o avançar do novo século, os registos noticiosos desportivos vão tecendo duras críticas aos desejos femininos de participar em algumas provas, nomeadamente no atletismo. Só algum tempo depois é que são reconhecidas as provas femininas no mundo do desporto.
A verdade é que, mesmo depois de se ter alcançado este feito das provas femininas no mundo do desporto, muitas são aqueles (homens e mulheres) que continuam a tecer duras críticas. Na atualidade, no basquetebol, futebol e andebol, por exemplo, cada género joga separado do outro. Em contrapartida, há desportos, como o badminton ou o ténis, em que se formam equipas mistas, ou seja, num jogo, homens e mulheres são co-responsáveis pelas vitórias ou derrotas. Não deveria ser assim para todos os desportos?
Por conseguinte, lamentavelmente, ainda há separação de géneros em muitas modalidades, o que é inconcebível no séc. XXI. Ainda assim, acredito que estamos mais perto de, num futuro próximo, podermos assistir a jogos com homens e mulheres, lado a lado, dentro das quatro linhas.
Para concluir, muitas são as mulheres que, com a sua voz, lutaram e continuam a lutar pelos direitos das mulheres no mundo do desporto. A nós, homens, cabe-nos a obrigação de estarmos a seu lado, apoiando-as nessa sua intenção. Só assim, o desporto será realmente inclusivo e, com mulheres em campo, talvez a violência entre os adeptos desapareça, mas isso é uma outra história.
Autor: Pedro David Neves Sêco, Turma: 10º A
3- Desigualdade de género no desporto
Na minha opinião, a sociedade de hoje em dia, apesar de ter grandes melhorias em relação ao passado, ainda não conseguiu aceitar, totalmente, a igualdade de género, e o desporto é um exemplo onde as diferenças entre homens e mulheres está vivamente presente.
Primeiramente, desde a antiguidade, sempre existiram papéis bem definidos para indivíduos do sexo masculino e para o feminino. As mulheres destinavam-se às tarefas domésticas e ao cuidado dos filhos, enquanto os homens tinham de trabalhar e ganhar rendimento, para sustentar a família. Dessa maneira, criaram-se os estereótipos, a idealização que as raparigas brincam com bonecas e os rapazes com carros, que os desportos que as mulheres praticam são a ginástica e os dos homens são o futebol. Todavia, estas suposições são totalmente incorretas, porque nem todas as raparigas praticam ginástica, e algumas podem preferir jogar futebol, e o mesmo se aplica aos rapazes. Mas por que razão a sociedade implementa tais ideias nas nossas cabeças? O motivo é desconhecido, mas tem definitivamente de parar!
Em segundo lugar, as mulheres não são tão reconhecidas nos desportos como os homens. Porque será? Talvez seja por estas diferenças e estereótipos que a sociedade teima em criar. Está comprovado que os indivíduos do sexo feminino não têm o mesmo acesso e oportunidades de praticar desporto, de desempenhar cargos de liderança em organizações desportivas, de receber prémios e honorários de desporto, e não têm a mesma atenção nos desportos femininos do que os homens. Podemos constatar esta injustiça através da televisão e mídia. Vemos tantas vezes reportagens, entrevistas, jogos, e conversas sobre jogadores, tais como, o Ronaldo, Bruno Fernandes, André Silva, Rúben Dias (entre outros). Mas quantas vezes esses canais falam e apresentam de jogadoras como Andreia Norton, Cláudia Neto e Ana Borges? Muito menos vezes, posso garantir. Outro exemplo onde se nota esta desigualdade é o caso de Rita Latas. Rita foi a primeira mulher a narrar um jogo de futebol da primeira liga, e recebeu muitas mensagens maldosas apenas pelo facto de ser uma mulher a falar de um desporto “de homens”!
Por último lugar, apesar de as mulheres não terem o mesmo reconhecimento dos homens, estes também sofrem por praticarem desportos “de raparigas”. Este é o caso de um rapaz que dança ballet. Ele pode ser gozado na sua escola por outros meninos, como acontece tantas vezes. Só porque um homem dança, patina, ou pratica ginástica, não tem de ter a sua masculinidade posta em causa. Aqui estão, de novo, presentes as injustiças que a sociedade criou.
Concluindo, considero que os estereótipos e diferenças (evidenciadas no desporto) ainda estão bem presentes nos dias de hoje. Por este motivo, devemos lutar contra estas desigualdades e tornar o mundo num lugar mais abrangente e tolerante!!
Autora: Maria Margarida Anjos Fernandes, 10º B
4 – (Des)Igualdade de género
O conceito de Igualdade de Género significa, por um lado, que todos os seres humanos são livres de desenvolver as suas capacidades pessoais e de fazer opções, independentes dos papéis atribuídos a homens e mulheres, e, por outro, que os diversos comportamentos, aspirações e necessidades de mulheres e homens são igualmente considerados e valorizados. De facto, a igualdade de género é uma coisa que ainda está muito longe de ser alcançada, visto que as mulheres são desvalorizadas e discriminadas em muitos aspetos, entre eles no desporto. No desporto, existe desigualdade de género, sendo que este ainda é dominado por discriminação e estereótipos. De acordo com um estudo feito em Portugal, as mulheres representam apenas um terço dos desportistas federados.
A meu ver, o desporto é uma área em que ainda existem muitas diferenças não só pelo facto de as mulheres praticarem um determinado desporto, mas também por serem árbitras ou treinadoras. Um exemplo disto é o facto de numa entrevista a antiga árbitra internacional de hóquei no gelo Charlotte Girard-Fabre ter exposto certas coisas que lhe diziam quando era árbitra. Esta afirmou que por exemplo lhe diziam que o hóquei é um desporto masculino e que ela devia voltar para a cozinha. Além disso, esta não acabou a carreira de forma voluntária, tendo sido despedida depois de ter denunciado a descriminação da sua federação.
No desporto também existe uma diferença salarial entre homens e mulheres. Segundo a revista Forbes que divulgou os desportistas mais bem pagos em 2020 apenas duas mulheres aparecem, sendo elas Naomi Osaka e Serena Williams, que aparecem em 29º e 33º lugar respetivamente. Neste exemplo podemos observar as diferenças salariais, visto que em 100 pessoas apenas 2 são mulheres.
Um dos estereótipos muito presente hoje em dia é o facto de as pessoas considerarem que há desportos só para mulheres e desportos só para homens. Por exemplo, as pessoas pensam que o futebol é só para homens e que as mulheres não têm o direito de o praticar.
Na minha opinião há muitas coisas no desporto que deveriam ser alteradas, sendo a igualdade de género uma coisa que as mulheres sempre tiveram de lutar para ter e mesmo assim hoje em dia é um facto que esta ainda não existe. Temos de continuar a batalhar para mudar mentalidades e comportamentos, como por exemplo, o facto de quando as mulheres denunciam algo ter sempre consequências e muitas vezes é a perda de emprego, tal como aconteceu com a árbitra mencionada neste texto. Também a desigualdade salarial é um assunto com que as mulheres lutam desde o passado, para ter um salário igual aos dos homens, perante o desempenho das mesmas funções. Além disso, penso que não há desportos para homens e para mulheres, há desportos para todos. Cada um deve praticar o desporto que quer e que gosta, sem ter de pensar no que as outras pessoas vão dizer ou pensar. Julgo que cada pessoa deve seguir a profissão que quer, no desporto não é por uma equipa ter uma treinadora mulher que vai perder um jogo, visto que as mulheres têm as mesmas capacidades que os homens e estas têm capacidade para liderar uma equipa ou um clube.
Em síntese, a desigualdade de género está também muito presente no desporto, sendo que temos de lutar para mudar as mentalidades, visto ainda existirem muitos estereótipos. Para finalizar, cito a frase de Michelle Obama “Não há limite para o que nós, como mulheres, podemos realizar.”
Autora: Matilde dos Santos Melo, 10º B